Por Ramalho Leite

No poder ninguém escapa do assédio e dos
rapapés. Basta você ficar distante do centro das decisões que mergulha
no esquecimento. Pedro Gondim, cassado, só ia a enterro, por que não
precisava de convite, reclamava.
O finado Judivan Cabral dizia que tinha
gente que não sabia viver longe do poder. Esses, quando caem, dizia com
muito humor, sofrem tanto que chegam às raias da depressão. Aprendi,
porém, desde cedo, que só existe um poder eterno - o Divino. Na terra,
todos os eflúvios de força política ou administrativa são efêmeros. Quem
pensar diferente tende a sofrer decepções.
Para mim, portanto, tanto faz estar no
alto como na planície. Mantive sempre um comportamento igual em
circunstâncias diferentes. Sobrevivi na oposição e nunca aderi a
governo algum. Estive no poder e dele saí quando o povo quis. Uma única
exceção foi a mais recente. A Justiça Eleitoral me colocou na
oposição. Nunca me entusiasmei com cargos ou posições. E lembro que até
banqueiro eu já fui.
O atual governador dos paraibanos
recomendou a seus auxiliares em recente reunião: aqui não quero ninguém
deslumbrado. Deslumbrado minha gente significa entre outras coisas
desligar os telefones e não retornar as ligações; receber mensagens e
não responder; deixar seus visitantes na sala de espera e sair pelos
fundos ou entrar no veículo e não cumprimentar seu próprio motorista.
Ficar deslumbrado inclui, também, eliminar o sorriso e fechar a cara
como se todos os problemas do Estado estivessem, exclusivamente, nas
suas costas.
Quem está eventualmente no governo tem que
entender que está em posição destacada, mas sua designação resultou de
um processo longo e sofrido, onde prevaleceu a vontade da maioria. Essa
maioria deu o poder de nomear a um governante e ele escolhe os nomes que
bem entender, elegendo critérios os mais diversos. De nenhum
governante partirá jamais a recomendação de que seus prepostos sejam
desatentos com simples cidadãos ou lideranças que os procuram .
Muitos se satisfazem apenas com uma palavra de conforto. Poucos pedem
para si. A maioria reivindica para o aglomerado que representa.
Eis uma advertência oportuna: não existe
vigário colado. Os cargos são eternos, mas seus ocupantes são
passageiros. Não há força que não acabe e poder que não se desfaça. Não
nos deixemos iludir com a liturgia do cargo.
Já contei essa historia, mas não custa
repetir. Era diretor do Banco do Nordeste e quando chegava à Paraíba
tinha que escolher entre os muitos chamados para jantar. Quando deixei o
Banco, escolhi um dos meus mais assíduos comensais e convidei para um
almoço, advertindo antes: desta vez, quem paga sou eu! Nem assim o meu
convidado apareceu. Precisamos cumprir a recomendação do Governador.
Todos ao trabalho e nada de deslumbramento. (Do livro, Em Prosa e no
Verso.)
Cariri Ligado
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