Por Zizo Mamede

Nos oito anos do projeto liderado pelo presidente Lula a política hegemônica no PT foi tão eficaz que o governo petista chegou ao limite de um ciclo que está se esgotando. Naquilo que dependia muito mais do executivo federal do que do parlamento, as tarefas e desafios urgentes foram executadas.
O sucesso do modelo lulo-petista
O governo de Lula barrou o desmanche neoliberal do Estado brasileiro. O combate à fome veio com uma política de distribuição de renda associada à inclusão social exemplar. A criação de empregos, com valorização salarial chegou a níveis inimagináveis para o mais otimista dos petistas. O país recuperou a sua capacidade de investimentos e de indução do investimento privado.
Grandes programas foram criados, como o programa Luz Para Todos, PAC e o Minha Casa, Minha Vida. A expansão do ensino técnico e superior é uma realidade em todo o território nacional e as iniciativas na área da saúde são alvissareiras, com destaque para as UPAs e o SAMU. Neste período o Brasil tornou-se protagonista no cenário internacional. – Há uma dignidade e um orgulho diferentes na alma brasileira.
Dilma – melhor do que a encomenda
A coragem e a determinação da presidenta Dilma Rousseff para avançar e aprofundar as medidas de incentivo ao crescimento econômico para o desenvolvimento social são vultosas: mexeu nos juros da economia, contra todo o dogmatismo neoliberal e boicote da elite nacional; agiu sobre o setor elétrico para reduzir os custos da produção e do consumo, atuou sobre os que ganham rios de dinheiro como câmbio, só para citar algumas ousadias da Presidenta da República. – Não é a toa que o Brasil destaca-se no enfrentamento a uma das maiores crises do capitalismo mundial.
Mas o governo Dilma também é bom nas políticas de desenvolvimento social, a exemplo da luta pelos recursos do Pré Sal para a Educação e da queda de braço com a corporação dos médicos para garantir mais médicos para as populações mais periféricas.
O “Centrão” – a oposição por dentro emperra as reformas
Mas o governo petista, com a aliança pragmática em curso, não fez as grandes reformas que o Brasil precisa fazer. Nem tinha como, com o PMDB, o PR, o PP e o PTB – o “Centrão”, como diz Tarso Genro – dominando o Congresso Nacional, com a capitulação conivente da bancada federal petista. Apenas a reforma da previdência foi tocada, para a perplexidade do segmento dos servidores federais e suas corporações. No mais, nada importante quanto à reforma política, reforma agrária, reforma fiscal e tributária, democratização da mídia, reforma urbana e reforma sanitária.
O partido e sua encruzilhada – para onde ir?
O projeto do PT para o Brasil está em uma encruzilhada. Bateu no teto no que diz respeito às urgências solucionáveis por medidas de governo. Para avançar o seu projeto social-desenvolvimentista, o PT precisa mudar de rumo, dialogar com as manifestações da sociedade, se reaproximar dos movimentos sociais, ser menos arrogante com os partidos aliados à esquerda e reduzir a influência do “Centrão” no Congresso Nacional. Sem fazer esse movimento o PT empareda o governo Dilma Rousseff e rifa as possibilidades de vencer em 2014 para fazer as reformas necessárias. – Ainda bem que Dilma Rousseff não se deixou capturar completamente.
O Processo de Eleição Direta do PT – PED 2013 transcorre nesta encruzilhada. Não é a toa que Rui Falcão, atual presidente nacional do partido e representante da política do campo majoritário está encurralado no debate e, como Lula da Silva, começa a fazer um discurso mais aberto e progressista, porque está preocupado com o dilema a que levaram o Partido dos Trabalhadores: uma instituição burocrática, voltada para eleições e cargos, mas com perda de seu ímpeto reformista, cada vez mais habituado com o status quo. – Um partido da ordem enfim, ou um partido renovado e reencantado com a luta que transforma a história?
Enquanto isso, na Paraíba:
Enquanto o PT e o governo petista encaram seus dilemas a nível nacional, na Paraíba o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, tomou gosto com o PT – tanto quanto tem com o Picolé de Manga e com o Botafogo da Paraíba – e partiu para o ataque: quer submeter o Partido dos Trabalhadores a um projeto político de base familiar. – Era só o que faltava: O partido construído durante décadas com os sonhos e os esforços de milhares de pessoas, ser transformado numa legenda de uma família, a exemplo de tantos outros.
A prioridade do prefeito Cartaxo para o seu projeto é tão escancarada que 2014 e a reeleição de Dilma Rousseff passaram a ser apenas uma agenda no meio do caminho até 2016. O chamado “campo majoritário” liderado pela família Cartaxo prioriza ora um “blocão” com partidos como o PPS e PSC, frontalmente adversários do governo Dilma – Nonato Bandeira, no calor das jornadas de junho, tachou de “bêbadas” as propostas da Presidenta para o povo brasileiro – ora conversa para apoiar o PP ou o velho PMDB fisiológico de sempre. Tudo de olho em 2016.
Cartaxo está tão obsessivo em relação ao seu projeto político que até flerta com o senador Cassio Cunha Lima do PSDB: “uma alternativa viável em 2014, apesar das diferenças em nível nacional”.
Política de base familiar no PT – Diga não!
Cariri Ligado
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