Por João TRINDADE

Nas minhas aulas, seja de Português, ou de Introdução ao Direito, digo aos alunos que esqueçam duas expressões: “sempre” e “a mesma coisa”.
A escola brasileira estraga o aluno com “regras” excessivas, chavões, mitos e toda qualidade de “feitiçarias”, “macetes”, que botam o aluno a perder.
Quem já não ouviu o professor de Português dizer que o aposto vem sempre entre vírgulas? Que o “lhe” é sempre objeto indireto?
Pior é que não é. Há apostos que não admitem vírgula; por exemplo, o aposto especificativo. O “lhe”, em determinados contextos, pode ser adjunto adnominal, quando aparece em frase que dê ideia de posse, como também (embora seja mais raro) complemento nominal.
Exemplificando:
A cidade de Campina Grande é hospitaleira.
Não poderia haver vírgula separando o termo Campina Grande, porque tal expressão é aposto especificativo.
O Rapaz agarrou a namorada e beijou-lhe a boca.
No contexto citado, o LHE é adjunto adnominal, e não objeto indireto.
TIRANDO “DÚVIDAS” NA PROVA
Outro problema muito grave, provocado pela escola (sobretudo a do ensino médio) é não ensinar o aluno a se portar na prova.
Na hora da prova, o aluno quer que você interprete os enunciados para ele, quando ele é que deve fazê-lo. Hora de tirar dúvida é na aula; na hora da prova, o professor não deve fazer quaisquer esclarecimentos, a não ser aqueles estritamente necessários, quando a prova tiver imperfeição. E, ainda assim, o próprio professor deve, caso haja imperfeição, resolvê-la, na correção, sem prejudicar o aluno.
É preciso que o aluno se conscientize de que numa prova de concurso, qualquer que seja ele, o candidato não poderá chamar o fiscal para tirar “dúvidas” de interpretação. Já diziam minhas professoras do primário: “A interpretação faz parte da prova”.
Infelizmente, na maioria dos colégios de João Pessoa, a direção leva, em dia de prova, o professor, de sala em sala, para tirar “dúvidas” sobre a prova.
Outro problema que encontro nas salas de aula é o aluno entregando prova a grafite. Não se entende como é que um aluno chega à universidade e ainda pergunta se pode fazer prova a grafite. Não se faz prova a grafite.
Seria providencial, pois, que as escolas orientassem, desde cedo, o aluno a fazer prova com esferográfica preta ou azul, como é exigido nos concursos. Nada de caneta lilás, verde, coraçõezinhos desenhados, etc.
E A REDAÇÃO?
A redação é um caos; uma balbúrdia. Professores corrigem sem qualquer critério (“eu quero assim...”), esquecendo-se de que há critérios universais para a correção de redações.
De modo que o aluno fica louco: o professor de redação da primeira série “quer” uma redação redigida de certa maneira; o da segunda, já “quer” de outra e o da terceira, esse geralmente mais radical, já “quer” de outra.
Ai vêm aquelas orientações ridículas: número X de parágrafos; não pode começar a redação com certas expressões; não pode repetir palavras; não pode usar a palavra coisa; não pode... não pode... não pode.
Quem disse que em redação não pode haver repetição de palavras ou de expressões? Ao contrário: em determinados contextos, fica até belo. Será que esses professores não sabem que existe uma figura chamada anáfora?
Não se pode usar a palavra coisa? E como substituir a frase: há coisas na vida que não podem ser explicadas? Ache outro termo para substituir a palavra coisa nesse contexto, leitor. Duvido.
E, para piorar, ainda existem aqueles que dizem ao aluno que numa redação não se deve usar figuras de linguagem.
Aí é o máximo do absurdo! O aluno deve usar sim, as figuras; desde tenha um bom domínio do assunto, goste de usar construções literárias. Em suma: tenha contato frequente com textos, o que, convenhamos, só uma minoria tem. Mas que pode, pode. Se o aluno domina o assunto figuras (falei em dominar; não em decorar definições), deve usar, sim. Que mal fará uma metáfora no texto?
A escola precisa mudar.
Do Cariri Ligado
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